Cadete em treinamento na
Vila Cruzeiro, no Rio, em 2012: lógica do confronto se sobrepõe a valores como
negociação e relação com comunidade, conclui estudo.
Curso de formação de
policiais no Maranhão em 2015: treinamento reforça ideal bélico e reproduz violência,
avalia pesquisador e capitão da PM.
Privação de sono, pauladas,
tarefas em salas impregnadas de gás lacrimogêneo e pimenta, almoço misturado
com água e consumido com as mãos imundas de terra e pus, humilhação e assédio
moral praticados por superiores.
As cenas, registradas em um
curso recente de formação policial no Brasil, se repetem pelo país. Expõem
ainda o predomínio, no treinamento das PMs, de uma "pedagogia do
sofrimento" que acaba por alimentar a violência de seus agentes nas ruas.
A conclusão é do capitão da
PM da Paraíba Fábio França, que colheu relatos de participantes de um estágio
de aperfeiçoamento realizado em agosto de 2014 em uma Polícia Militar do país –
o Estado não é revelado na pesquisa porque os chefes da corporação pediram para
"resguardar a imagem da instituição".
Mestre e doutor em
sociologia, França especializou-se no estudo da formação dos profissionais de
segurança pública no Brasil.
Com 35 anos de idade e 13 de
PM, o capitão cunhou a expressão "pedagogia do sofrimento" para
caracterizar o modelo de cunho militarista que, segundo ele, predomina na
educação policial no país, baseado em valores como masculinidade, virilidade e
exaltação ao combate bélico.
Para ele, essa pedagogia
está ligada a um "ethos (conjunto de costumes e hábitos) guerreiro",
que legitima a "construção de uma vontade bélica de proteger a
sociedade".
"A crença geral é que o
treinamento baseado em violência psicológica, moral e até física é necessário
para condicionar o corpo e a mente dos soldados para vencer o medo e o perigo e
ter coragem para o embate no que seria uma guerra urbana", afirma França,
que relaciona o fenômeno ao que aponta como "herança ditatorial" das
PMs brasileiras.
'Se não aguentar, corra'
Em conjunto com a colega de
PM Janaína Gomes, o capitão reuniu depoimentos de participantes de um curso de
formação de um pelotão especial de patrulhamento em motos.
Para os autores, que
publicaram os resultados do estudo na última edição da revista do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, os rituais do treinamento reforçam a
"pedagogia do sofrimento" em detrimento de valores como comunicação,
solução de problemas e relação com a comunidade.
"Na obtenção de um
'brevê de virilidade militar', é necessário um aprendizado voltado para o sofrimento
físico e para as dores morais", escrevem os policiais e especialistas em
segurança.
Nesse contexto, aponta
França, mulheres que apostam na carreira policial acabam obrigadas a
"introjetar o papel dominador da maioria masculina" para conseguir
espaço em um "universo marcado pelo preconceito" de gênero e contra
homossexuais.
Uma aluna do curso, por
exemplo, relatou como os participantes eram molhados com água gelada durante a
madrugada, entre outras privações.
"Além de banho de água
gelada na madrugada teve também gás. Eles colocaram a gente dentro de uma sala,
mandaram a gente tirar a camisa, colocar a camisa no olho, gasaram (lançaram
gás lacrimogêneo ou de pimenta) a sala e desmontaram a pistola para a gente
montar, e só saía da sala quem conseguisse montar a pistola", afirmou a
militar aos pesquisadores.
Outro participante reclamou
de uma situação em que a saúde dos alunos foi, segundo ele, colocada em risco.
"No horário de almoço
da gente, pegaram as quentinhas e jogaram dentro de um isopor sujo. Aí botou
(sic) a gente pra comer com a mão, a mão suja do dia todinho pegando na moto,
pagando flexão, com a mão suja cheia de pus, tinha muita gente com a mão inflamada.
A gente parecia um bando de animais", disse.
Reprodução
da violência
Os relatos colhidos pelos
pesquisadores militares da Paraíba reforçam os resultados de uma pesquisa
recente com 21 mil policiais no Brasil, que mostrou que 30% deles já tinham
sofrido abusos físicos ou morais dentro de suas próprias instituições.
Segundo o levantamento de
2014, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Fundação Getúlio
Vargas e Secretaria Nacional de Segurança Pública, 28% dos policiais ouvidos
afirmaram ter sido "vítima de tortura em treinamento ou fora dele" e
60% narraram situações de desrespeito ou humilhação por superiores
hierárquicos.
Treinamento na PM do
Maranhão: mulheres que apostam na carreira policial acabam obrigadas a
"introjetar o papel dominador da maioria masculina", diz capitão da
PM da PB
Para França, esse tipo de
formação acaba motivando um efeito dominó, em que as vítimas passam a
naturalizar e transmitir a violência adiante.
"Os alunos interiorizam
as regras morais e vão exteriorizá-las no cidadão comum, que é o 'paisano', o
'civil', uma categoria diferente. Você sempre irá buscar uma válvula de escape
para a ordem, a coerção moral", afirma o capitão.
A pesquisa registrou pelo
menos um caso de violência física contra alunos, em que instrutores
aproveitavam a superioridade hierárquica e a ausência do coordenador do curso
para "resolver (problemas com) desafetos".
"Um instrutor que
estava querendo 'tirar' um aluno que não foi com a cara pegou um pedaço de pau
dentro da mata. (...) Aí ele pegou e bateu num aluno que quebrou o pedaço de
pau, que o pedaço de pau voou longe na perna do dez (aluno), aí o dez deu um
suspiro forte e caiu no chão do meu lado", relatou um participante.
Visão
da polícia
Para o comandante do centro
de educação da Polícia Militar da Paraíba, coronel Carlos Alexandre Sobreira, a
formação "tem que ser dura e levar às vezes a extremos" para que o
policial vivencie situações que encontrará nas ruas, mas não deve propor o
"sofrimento pelo sofrimento".
Ele diz acreditar que as
polícias no Brasil ainda estejam em processo de transição democrática, e
reconhece que um policial desrespeitado na formação tenderá a reproduzir esse
comportamento nas ruas.
"Por isso temos buscado
uma metodologia de ensino voltada para humanismo, respeito e dignidade do
cidadão", afirmou Sobreira, citando ênfase em temas de direitos humanos e
policiamento comunitário. "O policial tem que tratar bem o cidadão,
conhecer bem os problemas sociais e não ser alguém que traga mais transtornos."
No treinamento, contudo, diz
o comandante, é preciso encontrar um equilíbrio. "Não podemos florear, é
preciso trazer o máximo de realidade possível para a formação."
Mudança
social
Os autores da pesquisa
concluem que as narrativas dos alunos expõem a resistência das instituições
policiais às mudanças – algo que, segundo ele, as PMs precisarão superar para
não perderem ainda mais confiança na sociedade.
"Mesmo que exista a
crença policial militar de que esse tipo de pedagogia seja necessária para
fazer o PM crer que o curso o habilita e o fortalece para as situações
encontradas nas ruas, as experiências escolares com os PMs mostram a falta de
preparo profissional dos instrutores que enaltecem o sofrimento e desconhecem a
lógica de poder e dominação presente nas ações desencadeadas por eles
mesmos", afirmam.
Tropa de choque da PM em
ação em protesto em Niterói (RJ) em 2013: para pesquisador, sofrimento em
cursos é exteriorizado por policiais nas ruas
França, que atua como
professor de Criminologia no Centro de Educação da PM da Paraíba, diz acreditar
que exista uma nova geração de policiais ingressando nas instituições, com
maior bagagem cultural e educacional, e que pode tornar as polícias mais
permeáveis a críticas.
"Há integrantes de PMs,
por exemplo, que não aceitam as críticas que faço. Mas não há como as PMs
voltarem atrás, elas têm que se adequar à realidade democrática do país."
POR THIAGO GUIMARÃES - DA
BBC BRASIL EM LONDRES
A PRESIDENTE DILMA DEU UMA ENTREVISTA À POUCO NO G1 ONDE DISSE QUE A POPULAÇÃO BRASILEIRA TERÁ QUE LIDAR COM A REFORMA DA PREVIDÊNCIA, POIS É ALGO INEVITÁVEL.
ResponderExcluirVAMU, VAMU, VAMU.... ANTES QUE NÃO DÊ TEMPO.
Ser militar se for praça é: tomar no rabo e arriscar a vida nessa carreira estática e injusta.
ResponderExcluirPro oficialato ser militar é: usar o militarismo como escudo pra se eximir do trabalho, sombra e ar condicionado.
Sistema porco e safado! O governo só irá ouvir as praças com a operação legalidade
Quando VC entrou era diferente? Vc entrou enganado? Iludido? Fala sério. Estudar VC não quer.
ExcluirEstuda vc morador da satélite. Se acha o fodão mas o militarismo faliu. Seu serviço não faz a menor diferença pra sociedade
ExcluirBom dia!
ResponderExcluirPara a PMDF Rollemberg não envia o Plano de Carreira dizendo que a LRF impede. Mas para a PCDF a conversa muda de figura. Ontem ele fez uma reunião na "calada" com a PCDF. Veja a resposta 👇
"Diretoria reúne-se com Governador Rodrigo Rollemberg
A diretoria do Sinpol-DF, representada pelo presidente Rodrigo Franco, pela vice Marcele Alcântara, o secretário geral Paulo Roberto Sousa e pelo diretor de Administração e Planejamento adjunto, Lidenberg Melo, esteve reunida com o governador Rodrigo Rollemberg na tarde desta quinta, 7, no Palácio do Buriti.
O encontro foi articulado pelos deputados distritais Cláudio Abrantes (Rede) e Wasny de Roure (PT), que também estavam presentes. Na semana passada, a diretoria esteve com os dois distritais na terça, 29, e na quarta, 30, a fim de solicitar a eles o agendamento dessa reunião.
O diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Eric Seba, compareceu à reunião, acompanhado pela diretora do departamento de Gestão de Pessoas, Ivone Rosseto, e pelo diretor da divisão de Comunicação, Paulo Henrique Almeida.
Na oportunidade, a diretoria voltou a apresentar a Rollemberg uma pauta de reivindicações com alguns itens. Dentre eles, o envio ao governo federal da mensagem que mantém a isonomia entre a PCDF e a Polícia Federal (PF).
O atendimento a esse pleito – cobrado pela categoria durante a greve de 22 dias deflagrada em setembro passado - é urgente nesse momento porque o governo federal, por meio do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) está em processo de finalização das negociações com as carreiras típicas de estado.
Rollemberg se comprometeu a contatar o Ministério do Planejamento até amanhã para verificar qual o prazo final das negociações e agendar uma reunião entre o Governo do DF, o MPOG e o Sinpol-DF para tratar da proposta de reajuste à categoria.
O governador afirmou que vai reunir a equipe de governança para avaliar o impacto no orçamento. Rollemberg disse, ainda, ter “vontade política” para atender aos pleitos dos policiais civis do Distrito Federal.
O Sinpol-DF cobrou ainda a regulamentação imediata da emenda à lei orgânica do DF n. 90/15, especificamente do item do Auxilio Moradia, além da atualização das atribuições e as nomeações dos 428 aprovados, entre outras reivindicações.
O Sinpol/DF conclama a categoria a ficar alerta às suas convocações, uma vez que os policiais civis não poderão suportar mais um ano de perdas financeiras em razão da inflação. Caso prevaleça o alegado impedimento financeiro para o avanço das negociações, o ano que começa promete ser de grandes batalhas.
Sinpol/DF - Juntos Somos Fortes"
CONTINUEM VIBRANDO!!!!!!!
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