PF investiga cartel de
combustíveis no DF
POR ALANA RIZZO E THIAGO
BRONZATTO - REVISTA ÉPOCA - 13/12/2015 - 12:16:03
Parlamentares Hélio José,
Izalci Lucas, Raimundo Ribeiro e Celina Leão são citados em ligações
telefônicas, grampeadas pela Polícia Federal.
Operação Dubai: Polícia
Federal investiga cartel de combustíveis no DF (Foto: Joá Souza/Ag. A
Tarde/Folhapress)
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Deputados e senadores
pediram dinheiro e gasolina para integrante do suposto cartel de postos de
combustível no Distrito Federal, segundo ligações interceptadas na Operação
Dubai e obtidas por ÉPOCA. A investigação, conduzida pelo Ministério Público,
pela Polícia Federal e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
apontou chamadas telefônicas realizadas entre Antonio Matias, sócio da rede
Cascol, e os assessores do senador Hélio José (PMB-DF), do deputado federal
Izalci Lucas (PSDB-DF) e o deputado distrital Raimundo Ribeiro (PSDB). Além
desses parlamentares, o nome da deputada distrital Celina Leão (PDT-DF) também
foi citado. Em uma dessas conversas, no dia 2 de outubro de 2015, o empresário
conversa com o seu assistente, identificado como Rivelino, e pede para que o
funcionário compre um cupom de R$ 1 mil em gasolina e entregue para Celina
Leão.
ANTÔNIO MATIAS: É, tem R$
1.000,00 pra comprar de gasolina?
Tem, tem.
ANTÔNIO MATIAS: Então, você
compra de gasolina e manda lá pra, pra Celina Leão, fala pra ela buscar aí, tá!
Tá bom?
RIVELINO: R$ 990,00 ou R$
1.020,00?
ANTÔNIO MATIAS: R$ 1.020,00.
RIVELINO: Tá bom. Sim,
senhor!
ANTÔNIO MATIAS: Põe num
envelope porque aquele outro eu mandei pra, "pro" Raimundo Ribeiro e
outro pra, pro senador Hélio, tá? Tá bom?
RIVELINO: Então, tá bom.
Sim, senhor. Sim, senhor. Agora.
Três horas depois, Antonio
Matias recebe outra ligação. Do outro lado da linha, uma pessoa se apresenta
como Mayone, da “assessoria do deputado Izalci” e negocia pegar “tickets”, que
são trocados por combustível.
MAYONE: Doutor Antônio
Matias? Tudo bem, meu amigo?
ANTÔNIO MATIAS: Tudo bem.
MAYONE: É Mayone, da
assessoria da deputado Izalci. É que nós fizemos a previsão de pegar uns
tickets hoje né. Mas a menina saiu um pouco mais cedo e nós não conseguimos
pegar com ela. E a gente precisava disso amanhã. Aí, eu conversei com ela e ela
falou: pra eu ir pegar esses tickets, eu preciso de autorização dos meus
diretores e, e, eu não trabalho no sábado e eu teria que vir só para fazer essa
operação. Então, teria que falar com o Antônio Matias para que pudesse fazer
essa operação.
(...)
ANTÔNIO MATIAS: Ok Mayone.
Vou ligar na menina e se tiver jeito vamos resolver para vocês.
MAYONE: Nós precisamos
mesmo, seu Antônio Matias. É porque essa operação nós vamos realizar já esse
final de semana e como ela disse que não trabalhava ela precisava da sua
operação para ir lá amanhã cedo e operacionar.
ANTÔNIO MATIAS: Tá, tá. Vou
ver aqui tá.
MAYONE: Obrigado seu Antônio
Matias, muito obrigado pela atenção.
Dez minutos depois, em outra
chamada telefônica, Matias conversa com um interlocutor identificado como
“Elsinho”. Na ligação, o empresário menciona que o PSDB queria pegar R$ 15 mil
em gasolina no dia seguinte.
ANTÔNIO MATIAS: O, o PSDB
pediu pra, pra ver como é que pegava, é, 15 mil reais de gasolina amanhã, né.
ELSINHO: Ahn.
ANTÔNIO MATIAS: Já tinha,
ele já tinha falado com a Viviane. E a Viviane falou que se, se eu autorizasse
ele, ele, ela ia.
ELSINHO: Ela iria lá?
ANTÔNIO MATIAS: Aí, eu
liguei pra ela agora, disse que ia, se...
ELSINHO: Ahn, hum.
ANTÔNIO MATIAS: Aí, eu
"autorizei ela" a ir de manhã cedo, 09:00 h pra lá que eles vão botar
15 mil, 15 mil reais.
ELSINHO: 15 mil reais. Tá
bom. Tá jóia.
ANTÔNIO MATIAS: Tá bom?
ELSINHO: Se precisar de
alguma coisa você me liga.
ANTÔNIO MATIAS: Então, tá.
Obrigado, viu.
ELSINHO: De nada.
ANTÔNIO MATIAS: Tchau.
De acordo com a
representação da Polícia Federal, o cartel de combustível possuía “imensos
contatos políticos”. “Apesar de estarmos em um ano sem eleições, diversos
políticos e partidos fizeram pedidos de dinheiro e de combustível a Antônio
Matias, por exemplo, como comprovam ligações telefônicas monitoradas”, diz o
documento.
A operação Dubai identificou
o esquema de cartel no mercado de combustíveis no Distrito Federal. As
investigações revelaram diversas combinações entre supostos concorrentes e a
constante articulação entre as distribuidoras e postos de revenda. Segundo a PF,
a Rede Cascol, de Antonio Matias, é um concorrente muito maior e mais influente
do que todos os demais. A rede tem cerca de 30% (95 dos 312) dos postos e cerca
de 50% do volume de combustíveis vendidos no DF. O segundo maior concorrente
possui apenas 15 posto. “Por isso, ela possui um poder econômico e político
muito superior aos demais atores. O cartel se configura no padrão
líder-seguidor: há um ator principal que define o preço e os demais seguem esse
valor”, diz a representação da PF. A Cascol, que tem contratos com a BR
Distribuidora, da Petrobras, vende 1,1 milhão de reais em litros de combustível
por dia, o que dá um lucro diário de quase R$ 800 mil com o esquema.
Procurado, o senador Hélio
José disse em nota: “Nunca tive, não tenho e nunca terei envolvimento com o
suposto cartel de combustível no Distrito Federal. E jamais autorizei qualquer
funcionário a tratar desses assuntos em meu nome”. O deputado Izalci Lucas
disse que costuma comprar tíquetes de gasolina, com cartelas de R$ 30, para
distribuir em sua empresa e familiares. De acordo com o parlamentar, ele compra
os tíquetes com frequência, e não houve doações por parte de Matias. A ligação,
segundo Izalci, ocorreu porque seu funcionário teve dificuldades em pegar os
papeis no fim do experiente. Izalci afirma ainda que compra com seu dinheiro, e
não com verba de gabinete. “Nunca pedi nada. Tenho nota fiscal em meu nome, com
meu cheque”, disse. A deputada Celina Leão afirmou: “Nunca pedi e nunca recebi
gasolina ou qualquer tíquete. Conheço o empresário Antonio Matias. Ele está
presente em vários eventos políticos. É uma pessoa muito influente. Mas só tive
relação institucional com ele”. Procurados, o deputado Raimundo Ribeiro e o
PSDB não retornaram. O advogado Marcelo Bessa, que defende Antonio Matias, não
quis comentar.
Fonte: Blog do Sombra
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