quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Estatuto do Armamento dos criminosos

As cenas de traficantes circulando fortemente armados pela favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em deslocamentos típicos de guerrilheiros urbanos, lançou ao país a realidade do aparato bélico que abastece a criminalidade: potentes fuzis e metralhadoras. São diversas as configurações, podendo se ver nas imagens os mais famosos, como AR-15, M-16, AK-47, além de outras tantas armas de igual ou ainda maior poder de fogo, pondo os criminosos em patamar superior ao da polícia - e talvez dos próprios militares que entraram no confronto para tentar impor um pouco de ordem à capital fluminense.

A questão revela um grande paradoxo, pois todas essas armas, filmadas à exaustão, estão circulando livremente justo no país que tem uma das legislações mais rígidas do mundo quanto ao acesso às armas, não por outra razão apelidada de “Estatuto do Desarmamento”. E mais paradoxal ainda é o fato de que foi justamente essa legislação que contribuiu decisivamente para que isso ocorresse.

Não é novidade que não há no Brasil um programa nacional de segurança pública, ou sequer diretrizes amplas de efetivo combate ao crime. Até hoje, a única aposta nesse sentido foi a restrição ao acesso legal às armas de fogo, numa política inaugurada em 1997, quando, com a Lei nº 9.437, o porte ilegal de arma virou crime e andar legalmente armado só era possível para quem demonstrasse “efetiva necessidade”. Seis anos mais tarde, essa diretriz se consolidou e se robusteceu, com o Estatuto do Desarmamento, verdadeiramente demonizando as armas de fogo legais e buscando bani-las do país – o que só não ocorreu porque a população rejeitou a ideia em referendo.

Por se cuidar de uma legislação puramente assentada em ideologia, voltada a propósitos de alinhamento a orientações da ONU, com ela se iniciou uma verdadeira cruzada para tentar comprovar que reduzir as armas de fogo legalmente em circulação diminuiria a violência. Caras campanhas de desarmamento viraram rotina, ao mesmo tempo em que comprar ou manter uma arma dentro da lei se tornou hercúlea tarefa. E, quanto mais não se evidenciava a redução criminal propagada, mais esforço e dinheiro se despendia, em vão, para provar o contrário.

A receita era simples: criavam-se enormes entraves para o cidadão se armar ou se manter armado, atribuía-se a ele a responsabilidade pelos homicídios e, com isso, se o forçava a se desfazer das armas que já tivesse. Todo o foco da aplicação da lei girava em torno disso, o que funcionou muito bem para quem cumpre as leis. Afinal, para o cidadão comum, ter uma arma depende de uma permissão legal. Se a lei permite, ele as compra; se não permite, não compra ou mantem. O problema que parecem ter esquecido é que isso não vale para os bandidos, que habitualmente infringem as leis em crimes muito mais graves do que o mero acesso às armas.

Enquanto o Estatuto do Desarmamento fez surgir no Brasil uma sanha persecutória às armas legais, recursos – financeiros e estratégicos – deixaram de ser empenhados para coibir a circulação das ilegais, que adentram em território brasileiro pelo tráfico internacional e hoje estão municiando, dentre outros, os traficantes do Rio. Perdia-se valioso tempo tentando convencer a população de que a arma do criminoso era aquela que um dia foi vendida numa loja e depois roubada, e se recusava a enfrentar o óbvio fato de que nenhum fuzil ou metralhadora jamais passou por um estabelecimento comercial, ou mesmo que a quase totalidade deles sequer tem produção nacional. Reconhecer o tráfico era uma verdade inconveniente, que jogava por terra toda a narrativa ideológica desarmamentista.

O Estatuto do Desarmamento, assim, serviu – voluntariamente ou não – como uma enorme cortina de fumaça, sob a qual os traficantes cariocas se escondiam para se armar de tudo que há de mais moderno e letal, formando verdadeiros exércitos do crime. Hoje, mesmo ícones desarmamentistas, como o deputado estadual fluminense Marcelo Freixo, não conseguem mais evitar reconhecer a culpa do tráfico de armas pelo abastecimento bélico dos morros cariocas. Só que agora é muito tarde para mudar o discurso. 

O tempo que o próprio deputado, organizações não governamentais, especialistas midiáticos e o governo perderam tentando culpar o cidadão que queria se defender pela violência foi de providencial ajuda para os traficantes. Se não eram vistos como ameaças, não eram combatidos, e o resultado disso dispensa qualquer genialidade para ser alcançado: a situação saiu do controle. 

O fato é que, ao mesmo tempo que desarmava o indivíduo comum, a legislação desarmamentista camuflava a chegada de mais e mais armas aos morros do Rio de Janeiro, e daí o caos que hoje ali se vive. E o que mais assusta é perceber que ainda há quem se recuse a enxergar essa realidade.

Fonte: cadaminuto.com.br

Um comentário:

  1. D fato sabemos que a segurança sempre foi tenue no Brasil. Especialmente após o segundo mandato do FHC e dos ex?guerrilheiros Petistas governos tudo saiu do controle do país, especialmente a segursegurança.
    A colocação q seu blog faz é oportuna e temos que Vitalizar a questquestão para se, no minimo, debatida, discutida, tanto nas ruas qto no Congresso.

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