Marta Nobre
Embora restem 1 ano e 4
meses para o fim do mandato, Rodrigo Rollemberg deve ser obrigado a deixar o
Palácio do Buriti bem antes. Tudo vai depender da Câmara Legislativa, ou, em
último caso, do Superior Tribunal de Justiça, destinatários finais de uma série
de ações que estão sendo preparadas para reverter a transformação do Hospital
de Base em Instituto. Na melhor das hipóteses, o governador responderá por
crime de peculato.
Como se vê, é mais uma
polêmica envolvendo o IHB, que surgiu meio que nas coxas como forma de
privatizar a saúde pública em Brasília. Articulações concebidas inicialmente em
diversas categorias profissionais alcançaram o Ministério Público Federal e o
Ministério Público de Contas da União. A ordem é evitar a todo custo a
efetivação da nova entidade.
Sindicalistas, juristas,
promotores e procuradores entendem que a criação do IHB, como fez o governo,
esbarra na legalidade da cessão dos servidores da Saúde para trabalharem no
Instituto. Isso porque, argumentam, a exemplo das áreas de Educação e Segurança,
os da Saúde também são pagos com recursos federais provenientes do Fundo
Constitucional do Distrito Federal. Esse Fundo foi instituído pela Lei Federal
nº 10.633/02, que regulamenta o inciso XIV do art. 21 da Constituição Federal.
O FCDF é regulado pelo
Decreto Federal nº 93.872/1986, que diz no seu artigo 77 que “Não será
permitida a utilização de recursos vinculados a fundo especial para despesas
que não se identifiquem diretamente com a realização de seus objetivos ou
serviços determinados”. Ou seja, não há como ceder os servidores pagos pelo
Fundo para trabalharem para o novo Instituto, ainda que temporariamente.
Quando da aprovação da lei
este aspecto legal não foi observado. Agora o Buriti se prepara para um novo
embate junto ao TCU, pois segundo adiantou um integrante do Sindicato do
Médicos, sob anonimato, as conversas no sentido de se apresentar uma
Representação junto àquele Tribunal, com pedido de liminar para proibir a
cessão de qualquer servidor, é grande.
A ideia também ganha corpo
junto ao órgão que vê com maus olhos a possibilidade de abrir um precedente
para que servidores públicos, pagos com recursos federais, trabalhem na
inciativa privada, ainda que temporariamente.
O temor é o de que, como o
número de servidores federais é muito grande, a decisão do GDF, caso passe pelo
órgão, poderá abrir as portas para a criação de outras instituições privadas,
que se serviriam da mão de obra dos servidores públicos de modo gratuito. Isso
abriria um rombo nas já combalidas contas públicas, cujos gastos com salários
comprometem quase toda a arrecadação.
A preocupação com estes
gastos tem se tornado uma prioridade para o TCU que, inclusive, em recente
decisão, determinou que todos os policiais, civis e militares, e também os
bombeiros cedidos a quaisquer órgãos, inclusive para a Presidência da
República, retornem às suas unidades de origem no prazo 15 dias. Portanto,
segundo confidenciaram alguns de seus membros, a possibilidade de se conceder
liminar proibindo o “empréstimo” de pessoal para o IHB é quase certa.
Segundo estas mesmas fontes,
embora aprovada pela Câmara Legislativa, não há previsão constitucional de
cessão de servidor público para entidade privada e, sob este aspecto, a lei
seria inconstitucional.
Filhote indigesto – As
manobras do GDF para criar o IHB acabaram por chamar a atenção do TCU para
outro problema: o Hospital da Criança de Brasília – HCB. Acontece que o
hospital é gerido pelo Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada –
ICIPE, entidade privada, que recebe milhares de reais mensais na forma de
repasse governamental para sua manutenção e funcionamento.
Entretanto, diversos
servidores da área da saúde pública, como médicos e enfermeiros, pagos pelo
Fundo Constitucional, prestam serviços para a entidade, o que seria ilegal.
Também pesa o fato de que,
segundo denúncias ainda em apuração, o GDF deslocou um grande número de médicos
pediatras da rede pública de saúde para aquele hospital, deixando unidades
inteiras sem atendimento pediátrico.
Um exemplo clássico é o do
Hospital Regional do Gama, que teve sua pediatria fechada por vários meses e
reaberta com atendimento precário por falta de pessoal, já que a maioria dos
profissionais foi deslocada para o HCB.
A luta de Rodrigo
Rollemberg, segundo avaliam os promotores das ações em andamento, é o prelúdio
de diversos processos que o Governo enfrentará nesta fase final. A aposta é no
sentido de que esse imbróglio deverá se arrastar mesmo após o atual governante
desocupar o Buriti.
Fonte: Notibras
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