Por Arnaldo Jordy
Pela primeira vez na
história da República brasileira, temos um presidente denunciado criminalmente
por atos de corrupção cometidos no exercício do mandato. Isso bastaria para que
Michel Temer tomasse a decisão de renunciar para abreviar a crise, afinal, o
próprio presidente declarou há meses que ministros denunciados na Lava Jato
teriam que renunciar. Agora, o próprio presidente foi atingido, mas ao
contrário do que afirmou, promete resistir, junto com seus ministros, muitos
deles na mesma situação.
O cenário que se anuncia é o
de um grande esforço do governo para barrar no Congresso as denúncias feitas
pela Procuradoria Geral da República, com manobras para garantir a nomeação de
um aliado como relator na Câmara e a substituição de membros da Comissão de
Constituição e Justiça que não sejam favoráveis a Temer.
A denúncia da PGR diz que os
R$ 500 mil entregues ao ex-deputado Rodrigo Rocha Loures seriam parte de uma
grande propina de R$ 38 milhões que seria paga ao próprio Michel Temer, em
troca de favorecimento à JBS no Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade). As parcelas seriam pagas semanalmente. Já se sabe que não houve
qualquer edição nos áudios apresentados pelos delatores à PGR, conforme perícia
detalhada feita pela Polícia Federal, que desmontou a tese de edição ou
montagem na gravação. A PF afirma ter "provas abundantes" contra
Temer, entre elas, a delação de sete executivos da JBS, a indicação de Loures
para resolver qualquer pendência e a imagem do ex-deputado Loures correndo com
a mala recheada de dinheiro. Novas provas devem ainda surgir a partir de
delaçôes que se anunciam, como a do doleiro Lúcio Funaro, que operava propinas
para o PMDB e agora está preso, e do próprio ex-presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, também atrás das grades, mas ainda que parece continuar a influenciar o
governo. Será mais combustível jogado na fogueira da crise.
Os áudios também deixam
clara a tentativa de proteger o perigoso Eduardo Cunha, para que ele não delate
seus parceiros de crime, o que poderá resultar em uma segunda denúncia, esta
por obstrução da Justiça. Uma terceira denúncia também é tida como inevitável,
a ser formulada pela PGR, agora de formação de quadrilha. Tudo resultado de
intensas investigações da Polícia Federal, cuja perícia na gravação de Joesley
Batista com Temer revelou novos diálogos, como aquele no qual Temer convida
Joesley Batista a entrar no Palácio Jaburu "sempre pela garagem",
para evitar o testemunho da imprensa. Diante de tudo isso, a PGR pede a
condenação de Temer por corrupção passiva, com perda da função pública ou
mandato eletivo e indenização aos cofres públicos de ao menos R$ 10 milhões por
Temer e R$ 2 milhões por Loures.
O fato é que Michel Temer
não tem mais condições de continuar a governar o Brasil. Infelizmente, ele
jogou fora a oportunidade que teve de conduzir o País até as eleições de 2018
de forma democrática e transparente, num momento em que a economia começava a
dar sinais de recuperação da crise que veio do governo anterior, comandado pelo
PT, o mesmo que agora, por mais que no discurso peça a saída de Temer, no fundo
espera que ele permaneça no cargo para "sangrar" até as eleições de
2018. O PT se comporta diante da crise como se nada tivesse a ver com ela, o
que não é verdade. Ainda que não declare, o partido tem interesse no
enfraquecimento do governo e se aproveita da mesma indignação com a corrupção
que o tirou poder. Os ataques que agora se acentuam contra a Operação Lava Jato
já eram esperados, à medida que ela avança contra o núcleo do poder deste e de
governos anteriores, mas não podemos perder a oportunidade de sanear a política
brasileira e de rever seus métodos promíscuos de ligação com a iniciativa
privada. Um novo Brasil deve surgir após esse trauma que são dois governos
derrubados pela corrupção em dois anos seguidos.
O Brasil precisa
urgentemente sair da crise que deixa 14 milhões de pessoas desempregadas,
precisamos de reformas estruturais urgentes no país, e Michel Temer não é o
nome adequado para fazer essa transição até 2018, quando poderemos escolher
pelo voto direto o novo presidente. O custo para conseguir os votos necessários
na Câmara para barrar as denúncias de Janot será a paralisia do governo para
tocar outras agendas que não a própria sobrevivência política de Temer. À
medida que seu capital político se enfraquece, as reformas ficam mais
distantes. A reforma da Previdência, por exemplo, precisa de uma discussão
detalhada de cada ponto, para que não se cometa injustiças contra os mais
desprotegidos, e não deve ser aprovada de afogadilho.
A permanência de Temer
atrasa a recuperação econômica do país, tanto que no dia seguinte à denúncia
contra o presidente, as projeções para o PIB feitas por instituições
financeiras internacionais para este e para o próximo ano caíram. Quanto mais
demorada for a transição, maior será o prejuízo. Temer, porém, parece sofrer da
síndrome de Chantecler, o galo da fábula francesa de Edmond Rostand, que tinha
certeza que era seu canto que despertava o Sol todos os dias, até que em uma
certa manhã, acordou tarde e viu que a aurora não dependia dele. Da mesma
forma, a recuperação da economia não depende de Temer, como ele tenta fazer
crer, mas acontece apesar dele e seria mais rápida sem ele.
Artigo do deputado federal e
líder da bancada, Arnaldo Jordy (PPS/PA) publicado nesta sexta-feira, 01, em
Jornal O Liberal.
Postado por Poliglota...
Boa noite! Gostaria de saber noticias sobre o Poliglota!!!! Grato. Sgt Pedro
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