Governo pede obediência à lei que exige que pelo menos 50% dos comissionados sejam efetivos |
Uma cartinha enviada a todas
as administrações regionais do DF informa o que o Ministério Público e o
Tribunal de Contas vêm insistindo há tempos: pelo menos 50% dos cargos em
comissão devem ser preenchidos por servidores de carreira. E, ressaltando que o
governo está impedido de aumentar gastos com pessoal pela Lei de
Responsabilidade Fiscal solicita que os administradores se esforcem “para o
enquadramento da situação do órgão aos patamares observados na Lei Orgânica do
DF”.
Conforme o governo, os
gestores podem solicitar quadros efetivos para compor as administrações,
ocupadas historicamente por apadrinhados políticos. O documento, que foi
encaminhado pela Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, tem caráter
informativo, segundo a pasta. “E tem a finalidade de orientar os órgãos a
cumprir o entendimento do Tribunal de Contas do Distrito Federal sobre
dispositivo da Lei Orgânica que estabelece, no mínimo, 50% dos cargos em
comissão devem ser ocupados por servidores efetivos”, diz o governo.
Em nota, a secretaria pontua
que, quando se observa a comparação dos cargos comissionados ocupados por
servidores efetivos e os de livre provimento em todo o Distrito Federal, o
percentual de servidores com vínculo em cargos de direção, chefia e
assessoramento é superior a 50%. Mas o entendimento da Tribunal de Justiça é de
que essa contagem tem de ser individualizada.
Quatro anos atrás, o
Tribunal de Justiça esclareceu uma questão referente à interpretação da lei que
exige o preenchimento de vagas por efetivos. Na época, o Conselho Especial do
TJ decidiu que o cálculo do limite mínimo de 50% deve ser feito em relação a
cada órgão público e não ao total de vagas da administração pública, como os
governos vinham defendendo. A ação direta de inconstitucionalidade foi proposta
pelo Ministério Público.
Concurso
de remoção
Secretário das Cidades,
Marcos Dantas repete que o número total obedece à lei, mas quando a conta é
feita por órgão, o percentual não é atingido. “Estamos fazendo esse debate no
interior do governo para ver quais medidas poderão ser tomadas para poder
atingir as metas”, conta, ao lembrar que é preciso considerar que o governo
está impedido de aumentar os gastos com pessoal, por conta dos limites impostos
pela LRF. E cogita um concurso interno para remoção de servidores como opção.
“Nós solicitamos à
Secretaria de Planejamento que fizesse um estudo e nos ajudasse a construir uma
alternativa”, explica, ao reiterar que o governo está tentando encontrar uma
solução definitiva para o problema. “É uma preocupação do governador, não só
para atender à lei, mas, o mais importante: para profissionalizar a gestão”,
diz.
Tribunal
de Contas do DF também recomenda
Na carta enviada aos
administradores, o governo menciona a recomendação do Tribunal de Contas para
que a legislação seja observada. A questão da composição de servidores foi
lembrada também no julgamento das contas do primeiro ano do governador Rodrigo
Rollemberg, nesta semana.
“A elevada rotatividade dos
funcionários públicos sem vínculo afeta a qualidade do serviço prestado”,
mencionou o conselheiro Renato Rainha, no voto, que, no fim das contas,
recomendou a aprovação das contas, “apesar das graves irregularidades”,
seguindo o relator, José Roberto Paiva Martins.
Rainha observou que a
prática de ter comissionados sem vínculo na maioria dos cargos de confiança tem
sido comum no DF. “Claro está que o Poder Judiciário não tem dado guarida a
essa reiterada conduta irregular”, disse, ao citar que recursos contra a
determinação foram rejeitados até no Supremo Tribunal Federal (STF).
O relatório de Paiva Martins
citou, inclusive, que foi observado, no fim de 2015, que 57 unidades da
administração tinham a maioria dos cargos ocupados por comissionados sem
vínculo. O problema, diz Rainha, foi notado em especial nas administrações
regionais.
Dividir
responsabilidade
Na busca de uma solução para
o impasse, que envolve não só o TCDF, mas decisões da Justiça comum e o
Ministério Público, o secretário Dantas rechaça a hipótese de que o Executivo
esteja com a intenção de dividir a responsabilidade com os administradores, ao
deixá-los cientes do que estabelece a legislação. “Esta é uma questão histórica
do governo que agora aparece mais agudamente. Mas já estamos buscando
soluções”, explica.
Fonte: Milena Lopes do
Jornal de Brasília
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